As imagens vigilantes são uma família de imagens digitais formadas por três tipos, sendo o mais comum, as imagens capturadas por câmeras de segurança. Essas, são produzidas por dispositivos de controle de circulação em cidades, aeroportos, residências privadas, condomínios. Normalmente tem uma composição precária, limitada aos ângulos possíveis dessas câmeras infiltradas na paisagem, muitas vezes escondidas ou camufladas nos ambientes. Essa imagem vigilante, é uma imagem panóptica, produzida por órgãos de controle: estatais, corporativos, e muitas vezes, domésticos.
As duas outras categorias de imagem vigilante, dependem de estratégias e políticas de controle de dados e são mais imperceptíveis ao grande público, e menos associadas ao termo. Fernanda Bruno em Máquinas de ver, modos de ser (2013), ampliou este conceito de imagem atrelado ao fluxo de informação da internet, ao uso de dispositivos móveis e à participação da pessoa usuária (produtor e vigilante) em plataformas como Facebook, Instagram, YouTube. Em sua pesquisa, a autora discorre sobre diversos aspectos atrelados às novas experiências entre ser vigiado e vigiar, e levanta uma série de serviços e sites, produzidos por pessoas físicas cujo objetivo é capturar os rastros digitais dos usuários da web, em um regime de participativo. A grande maioria des informações coletadas são usadas para serviços de monitoramento e venda de dados pessoais de empresas de marketing on-line. Esses são os “agentes invisíveis”, que podem gerar imagens vigilantes, sem a autorização de uso de imagens dos “retratados”, nome homônimo de uma das pesquisas sobre o assunto realizada por Bruno (BRUNO, 2013, p. 123-135).
A imagem vigilante participativa, a meu ver, também pode ser representada pelas imagens cotidianas no Instagram e Facebook, muitas vezes marcadas com o “checkpoint” ou pin de geolocalização. O jogo de linguagem da rede “ver e ser visto” estimula o controle dos próprios usuários sobre seus seguidores, familiares, amigos, governantes.
A terceira categoria de imagem elencada por Bruno é a imagem contravigilante. Produzida por cidadãos, ela denuncia as políticas de vigilância de regimes autoritários, por exemplo; ou imagens que denunciam crimes ou abusos flagrados pelo internauta comum. Esta imagem tem o usuário como vigilante amador, voyeurístico, em uma outra lógica de controle do que circula e é compartilhado nas redes.
Esta imagem vigilante-contravigilante também tem um caráter colaborativo no sentido que ela pode auxiliar organizações, empresas e eventualmente ações governamentais progressistas frente a abusos ou práticas abusivas. Podemos chamá-las de imagens resistentes na medida em que inúmeros vídeos amadores denunciam a violência policial e/ou militar contra as manifestações políticas no norte da África, na Europa e nos Estados Unidos em 2011, bem como no Brasil em 2013. Imagens cuja urgência política e redes de circulação criam ruídos e brechas nas vias convencionais de poder e controle (Ibid, p.139-140).