Imagem memória

A imagem memória circunscreve questões autobiográficas em sua representação fotográfica e fílmica. Nos apropriamos do termo usado por Philippe Dubois para tratar da transversalidade do cinema autobiográfico moderno (2012), ampliando seu significado, para aplicá-lo às imagens memória que circulam nas redes.

Poderíamos dizer que toda imagem carrega um viés memorialístico, porém vamos respeitar o caráter autobiográfico, um relato do si, “um cinema do ‘eu’”, uma mise-en-scène do sujeito feita por si próprio, como propõe Dubois (2012, p. 3). É sob este prisma que definimos a imagem memória das redes. Esta imagem pretende representar noções do estado mental e psicológico da pessoa inscrita naquele momento, naquela imagem. Traçando um paralelo à análise do pesquisador acerca de tais imagens no cinema, concordamos que essas são imagens apelativas e francas, representam uma dupla frontalidade e pertencem a um enunciado maior do narrador, no caso, do autor da imagem. (Ibid, p. 6). É necessário que esta memória esteja vinculada a um lugar para que possa ser relembrada em um dispositivo, a imagem. Os loci compõem a estrutura do dispositivo da memória e a memória é, portanto, algo visual.

As questões relacionadas à natureza psíquica da imagem é o que nos interessa na definição deste verbete. Para além dos fenômenos psíquicos de representação do que vivemos e sentimos por meio das artes e da imagem memória, surge a questão sobre como podemos acreditar na autenticidade e na franqueza de uma imagem memória, um self que circula nas redes sociais. Há muitas estratégias para uso das imagens memória: aquelas que narram cotidianamente os fatos; as que se utilizam apenas de uma imagem síntese para que o espectador descubra e investigue o que se passou e o que está acontecendo por trás daquela cena; e as imagens-mensagens, que fornecem fragmentos espalhados sobre uma história onde há uma dissolução do sujeito, representado ali por objetos semânticos e cênicos, também componentes de uma imagem memória (Ibid, p. 18).

A análise de Dubois sobre essas três vertentes elucidam as infinitas possibilidades de trabalharmos como produtores ou receptores de narrativas com este tipo de imagem.