O termo imagem dança remete a relação delineada entre corpo e imagem em uma produção estética na qual os limites entre o uso das tecnologias fílmicas e a dança contemporânea são tênues. Esta tipologia de imagem, identificada no fluxo das redes sociais, segue os matizes da videodança, das performances interativas, das instalações coreográficas e multimídia.
O trabalho “Nine Variations on a Dance Theme”, da artista e documentarista Hilary Harris, de 1966, é considerado um dos pioneiros no gênero: “a medida em que a tecnologia penetra mais e mais nas nossas vidas, e que as câmeras de vídeo vão se tornando mais comuns, parece ser uma ocasião perfeita para nos voltarmos para a história do gênero na tentativa de codificá-lo”, diz Hilary (1966). A artista também é conhecida como a precursora do uso da técnica do time-lapse na fotografia.
Em “Notas sobre a dança para câmera e manifesto”, Douglas Rosenberg (1990), cria um manifesto dedicado à dança para a tela, no qual discute as tenções entre o movimento cinematográfico da imagem com os movimentos dos corpos (CALDAS, et al. 2011). Este trabalho também é uma referência para o entendimento da evolução desta linguagem.
Para a artista e pesquisadora Isis Gasparini, o termo imagem dança abriga um conjunto de definições fluidas e fugidias, é um conceito que amplia a noção de videodança, nublando ainda mais as fronteiras pois junta universos vizinhos como as linguagens da dança e do audiovisual, que traz consigo uma interação entre cinema, vídeo, fotografia, coreografia, dança, tela e exibição, numa relação de interdependência. Esta imagem cinética pressupõe uma duração, um suporte físico ou virtual e um espectador potencial. É um híbrido, sem limites. (GASPARINI, 2022)
No site http://intermsofperformance.site/, projeto realizado na Arts Research Center, da Universidade da Califórnia, em Berkley, as pesquisadoras Shannon Jackson e Paula Marincola (2016) atualizam as referências das intersecções entre artes performáticas e narrativas fílmicas, destacando o experimentalismo e a interdisciplinaridade do campo. Organizado por meio de palavras-chaves, a publicação oferece um repositório atualizado de trabalhos e de pesquisas de artistas, curadores, compositores e coreógrafos que operam dentro dessa linguagem híbrida, dentre eles os trabalhos de Susan Sabine Breitwieser, Leigh Foster, Allan Kaprow, entre outros.
A imagem dança também pode ser atribuída a uma estética emergente das redes, na medida em que pode ser usada para representar a dissidência dos corpos durante o período de confinamento da pandemia da covid-19. São produções e edições domésticas, realizadas por usuários, como um experimento identitário, exploratório e artístico. Uma imagem “self” em movimento, uma estetização do que nos restou como casa, lugar de abrigo de mistérios, medos e insights criativos. É uma mistura de linguagens fílmicas – cada vez mais dominadas pelo cidadão comum com um smartphone na mão – uma investigação e ampliação do autorretrato, uma espécie de “quem somos” que convida a exploração do corpo como objeto e linguagem. Uma narrativa audiovisual, emocional, realizada em um tempo-espaço.
O termo imagem dança é elástico e, nesse sentido, extrapola a videodança pois abarca outros protagonistas, coreógrafos de seus corpos dançantes para o palco-tela-rede.